Esse segundo show me fez lembrar a época do Prima Causa, minha antiga banda. Tocávamos quase todo final de semana e, estávamos sempre correndo de um lado para o outro agendando shows e acertando novas datas com produtores e donos de casas noturnas. A internet ainda engatinhava e não existiam sites, blogs ou comunidades virtuais. O nosso trabalho era baseado na divulgação entre os amigos e através de zines e filipetas distribuidas em shows pela cidade. Foi um período bastante divertido em que aprendemos muito com todas as adversidades que encontramos pelo caminho. Apanhamos com erros de produção e aprendemos a conduzir as coisas da nossa própria forma . Pena, que tudo terminou. Ficaram as amizades, as boas lembranças e a certeza de que vale a pena lutar por um grande sonho.
Bem, voltando ao Blue Bell, ou melhor, ao segundo show, o clima era de embalo. Havíamos tocado há poucos dias no 92 Graus e estávamos super empolgados com a idéia de que uma agenda estava sendo formada. Fora esse show, mais duas datas já estavam sendo acertadas. No entanto, essa apresentação nos fez ver o quanto tínhamos que mudar o rumo do trabalho para que as coisas viessem a acontecer da maneira como sempre desejamos. Por mais que as músicas falem por si só - na nossa opinião, é claro - a necessidade de uma produção se fez presente. Vi o quanto só nós escutávamos os arranjos das músicas com clareza. Percebi que o formato que nós havíamos escolhido para as apresentaçãoes, jamais funcionaria na prática. Ficou clara a necessidade de mudança. Outra coisa que ficou clara, é que nós não podemos sair por ai tocando com bandas totalmente díspares. Essa noite me fez lembrar de dois shows antológicos e inusitados. Ambos, inclusive, foram realizadas no Rock'n Rio. O primeiro, aconteceu quando o Erasmo Carlos foi bombardeado por um mar de vaias orquestradas pelos metaleiros no 1o Rock'n Rio. Tornou-se impossível a apresentação dele. O cara foi simplesmente massacrado por um público que estava ávido por ouvir heavy metal. Outra apresentação que ficou marcada pelo erro grotesco da produção foi a noite em que o Lobão se apresentou junto com a bateria da Mangueira em um dia dedicado ao metal. São estilos que não se afinam, propostas totalmente díspares e conceitos opostos o que torna bastante difícil a relação entre esses públicos. Por isso, selecionar os shows é algo que faremos daqui para frente. Não que haja algum tipo de preconceito da nossa parte, mas, para o público, muitas vezes se torna chato ter que assistir ao show de uma banda com um estilo totalmente diferente daquele que ele normalmente curte.
O show em si, foi bem mais tranquilo e produtivo do que o anterior. Não me perdi no meio de comentários extensos e observações descabidas. Concentrei-me apenas nas músicas. Precisava ouvi-las sem influências externas. O alcool, na primeira apresentação que fizemos, me tirou todo e qualquer senso crítico. Não conseguia lembrar com nitidez dos acontecimentos passados. No entanto, para essa segunda apresentação, guardei comigo, a vontade de acertar e a necessidade de me fazer entender. Não podia cometer os erros anteriores nem tampouco me deixar levar pela ocasião. Existia uma necessidade enorme de auto conhecimento e isso só seria possível a partir do momento que eu estivesse totalmente lúcido, algo que desta vez aconteceu.
Para os próximos shows fica a certeza de muito trabalho, empenho e dedicação.
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